Guerra prossegue em Gaza apesar de apelo de cessar-fogo imediato da ONU

por Cristina Sambado - RTP
Sarah Yenesel - EPA

Os ataques aéreos de Israel e os confrontos com militantes do grupo islamita palestiniano Hamas continuaram esta terça-feira na Faixa de Gaza, apesar do Conselho de Segurança da ONU ter exigido um cessar-fogo imediato.

O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, disse ter registado 70 mortos esta madrugada, incluindo 13 em ataques aéreos perto da cidade de Rafah, no extremo sul do enclave, onde 1,5 milhões de palestinianos procuraram refúgio dos confrontos.

As Forças de Defesa de Israel disseram que vários alertas foram emitidos perto de Gaza devido ao lançamento de foguetes por parte de militantes palestinianos.
ONU vota cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza
O Conselho de Segurança da ONU votou a favor de um cessar-fogo imediato em Gaza pela primeira vez desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, depois de os EUA terem abandonado a ameaça de veto, colocando Israel num isolamento quase total na cena mundial. A resolução também sublinha "a necessidade urgente" de alargar o fluxo de assistência humanitária a Gaza e de proteger os civis, tendo em conta o elevado número de mortos civis e os avisos da ONU sobre a fome.

O resultado da votação marca o mais forte confronto público entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, desde o início da guerra. 

Os Estados Unidos abstiveram-se e os outros 14 membros do Conselho votaram a favor da resolução de cessar-fogo do Conselho de Segurança, apresentada pelos 10 membros eleitos do Conselho que exprimiram a sua frustração com mais de cinco meses de impasse entre as grandes potências. Uma votação que aplaudida. O texto exige "um cessar-fogo imediato durante o mês do Ramadão, que conduza a um cessar-fogo duradouro e sustentável" e a libertação dos reféns, mas não fazia depender as tréguas da sua libertação, como Washington tinha exigido anteriormente.

O enviado palestiniano à ONU, Riyad Mansour, considerou a votação do Conselho de Segurança um "voto tardio para que a humanidade prevaleça".

"Este deve ser um ponto de viragem. Isto deve levar a salvar vidas no terreno", afirmou Mansour ao Conselho de Segurança. "Peço desculpa àqueles a quem o mundo falhou, àqueles que podiam ter sido salvos mas não o foram".

o Hamas saudou a resolução e disse estar pronto para uma troca imediata de prisioneiros com Israel, aumentando as esperanças de um avanço nas negociações em curso em Doha, onde os chefes dos serviços secretos e outros funcionários dos EUA, Egito e Catar estão a tentar mediar um acordo que envolveria a libertação de pelo menos 40 dos cerca de 130 reféns detidos pelo Hamas por várias centenas de detidos e prisioneiros palestinianos, e uma trégua que duraria um período inicial de seis semanas.

Depois de mais cinco meses de guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, esta foi a primeira vez que o Conselho de Segurança conseguiu aprovar uma resolução relativamente a um cessar-fogo no enclave, dado que vários projetos foram consecutivamente vetados. Esta terça-feira, uma perita em direitos humanos da ONU vai apresentar um relatório em que pede que Israel seja sujeito a um embargo de armas, com base no facto de ter levado a cabo atos de "genocídio" em Gaza.

A abstenção dos EUA seguiu-se a três vetos a resoluções de cessar-fogo anteriores, em outubro, dezembro e fevereiro, e marca o agravamento significativo de uma rutura com o governo de Netanyahu, refletindo a frustração crescente em Washington perante a insistência desafiadora do primeiro-ministro em que as forças israelitas vão avançar com o ataque a Rafah e perante os persistentes obstáculos israelitas à entrega de ajuda humanitária.

O Reino Unido que se absteve nas três resoluções anteriores sobre o cessar-fogo, votou a favor do texto de segunda-feira.
Benjamin Netanyahu cancela deslocação de ministros à Casa Branca
O primeiro-ministro israelita cancelou a visita de dois ministros à Casa Branca e diz que os EUA "abandonaram a sua política na ONU" depois de se terem abstido na votação de segunda-feira, dando esperança ao Hamas de uma trégua sem ceder os seus reféns e, por conseguinte, "prejudicando tanto o esforço de guerra como o esforço de libertação dos reféns".

O gabinete de Netanyahu cancelou uma visita a Washington de dois dos seus ministros, com o objetivo de discutir uma ofensiva israelita planeada para a cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, à qual os EUA se opõem. A Casa Branca declarou estar "muito desiludida" com a decisão. No entanto, a visita do ministro israelita da Defesa, Yoav Gallant, previamente agendada, prosseguiu.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, sublinhou na reunião com Gallant que existiam alternativas a uma invasão terrestre de Rafah que garantiriam melhor a segurança de Israel e protegeriam os civis palestinianos, segundo o departamento de Estado.

Em Washington, Gallant insistiu que Israel continuaria a lutar até que os reféns fossem libertados.

"Não temos o direito moral de parar a guerra enquanto houver reféns em Gaza", afirmou Gallant antes da sua primeira reunião com o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan. "A falta de uma vitória decisiva em Gaza pode aproximar-nos de uma guerra no norte."

Para o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, a votação da ONU não representou uma mudança na política dos EUA, mas que a resolução assinalou uma rutura significativa entre a administração Biden e o governo israelita - e representou uma demonstração de unidade internacional há muito adiada em relação a Gaza, depois de terem sido dadas como mortas mais de 32 mil pessoas em Gaza estarem desaparecidas e de as agências da ONU estarem a alertar para a iminência de uma grande fome.

c/agências
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